O acesso a informações genéticas relevantes pode significar a diferença entre prevenir uma doença ou enfrentá-la em seu estágio mais agressivo. Na Colômbia, o caso de uma mulher que descobriu tarde demais ser portadora de uma mutação BRCA1 revela as falhas ainda existentes na comunicação entre os ensaios clínicos e a atenção médica. O que poderia ter sido um alerta preventivo acabou se transformando em um diagnóstico de câncer metastático.
A participante havia sido incluída, em 2016, em um estudo de análise genética organizado por uma clínica privada em Bogotá. Segundo as orientações iniciais, caso fosse detectado algum achado relevante, a participante seria contatada. No entanto, isso não aconteceu. O resultado — um relatório com advertência clara sobre uma mutação patogênica — permaneceu sem comunicação efetiva durante anos, até que a própria paciente o recuperou posteriormente, quando já convivia com a doença.
A situação levanta questões críticas de fundo: qual é a responsabilidade de uma instituição de pesquisa diante de resultados que têm implicações médicas diretas e consequências graves caso não sejam comunicados e tratados em tempo hábil? Enquanto a clínica invoca cláusulas do consentimento informado para sustentar que seu dever era limitado, a paciente questiona a ausência de acompanhamento real e a violação de seu direito de conhecer informações determinantes para sua saúde e sua vida. O que a pesquisa considerou apenas um dado adicional para seus objetivos, para ela representava a oportunidade de se antecipar à doença.
O caso também interpela o sistema científico internacional. O estudo do qual ela participou foi publicado em uma das revistas mais prestigiadas do mundo, ampliando a reputação de seus pesquisadores. No entanto, as voluntárias latino-americanas que contribuíram com suas amostras ficaram à margem dos benefícios práticos do conhecimento gerado.
A paradoxa é clara: enquanto os resultados circularam na esfera acadêmica global, a mulher que forneceu suas informações genéticas se sentiu tratada como uma fonte anônima de dados — e não como uma pessoa com direitos e com riscos genéticos identificados que poderiam ter salvado sua vida e sua saúde se tivessem sido tratados de maneira correta e oportuna.
A paciente resume com contundência: “Os avanços da ciência também deveriam se traduzir em benefícios para quem participa, e não apenas em medalhas para os pesquisadores.”
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