Solicitações e Retiradas do Mercado

Produzidos pelas glândulas suprarrenais, os corticosteróides (um termo para hormônios esteróides que inclui os glicocorticosteróides, também chamados de glicocorticoides) afetam o metabolismo de carboidratos, gorduras e proteínas, bem como outras funções corporais [1]. Os corticosteróides sintéticos estão disponíveis em formulações sistêmicas (orais e injetáveis) (consulte a Tabela, abaixo, para ver exemplos), bem como nas formas inalatória, nasal, oftálmica (para os olhos) e tópica. Devido à sua capacidade de suprimir as respostas inflamatórias e imunológicas, os corticosteróides são amplamente utilizados no tratamento de muitas doenças (como asma, doença inflamatória intestinal e artrite reumatoide) e na prevenção da rejeição de órgãos em receptores de transplantes.

O uso de corticosteróides está associado a muitos efeitos adversos que estão incluídos nos rótulos desses medicamentos, como pressão alta, níveis elevados de açúcar no sangue, úlceras gastrointestinais e osteoporose (perda óssea) [2].

Em julho de 2011, o Grupo de Pesquisa em Saúde Public Citizen fez uma petição à Administração de Alimentos e Medicamentos (Food and Drug Administration, FDA) para exigir certas advertências de segurança adicionais nos rótulos dos glicocorticosteróides [3]. Em fevereiro de 2024, a FDA finalmente concedeu nossa petição em parte [4].

Daqui em diante, este artigo usará o termo corticosteróides, de acordo com a forma como a FDA se refere a essa classe de medicamentos.

Petição da Public Citizen e alterações de rotulagem correspondentes
Em nossa petição de 2011, solicitamos que a FDA exigisse a revisão dos rótulos de todos os corticosteróides sintéticos para incluir avisos sobre o aumento do risco de sarcoma de Kaposi (um tipo de câncer que forma lesões no trato gastrointestinal, nos pulmões ou na pele) e a ativação de infecções latentes (adormecidas) causadas por vários patógenos (incluindo ameba, Candida, Cryptococcus, Mycobacterium, Nocardia, Pneumocystis e Toxoplasma).

Da mesma forma, pedimos à agência que exigisse avisos universais nos rótulos dos corticosteróides sobre um possível efeito adverso relacionado aos olhos chamado coriorretinopatia serosa central (caracterizada pelo acúmulo de fluido sob a retina que pode causar visão central embaçada e até mesmo descolar a retina). Em especial, descobrimos que esse efeito adverso não estava listado em 87% dos rótulos que analisamos, incluindo os das formulações de prednisona.

E por último, pedimos à FDA que revisasse os rótulos de todos os corticosteróides, conforme apropriado, e que exigisse mais alterações nos rótulos para garantir que outras informações importantes sobre o uso e a segurança desses medicamentos fossem apresentadas de forma consistente.

Em sua carta de resposta de fevereiro de 2024, a FDA atendeu às nossas solicitações sobre os riscos do sarcoma de Kaposi e da ativação de infecções latentes [6]. Desde junho de 2024, portanto, avisos padronizados sobre esses riscos foram incorporados aos rótulos dos produtos corticosteróides sistêmicos (consulte a Caixa de Texto abaixo para ver esses novos avisos) [7]. A agência não exigiu esses avisos para corticosteróides administrados por vias de administração localizadas (como tópica ou por inalação).

Apesar de recebermos de bom grado essas novas advertências de segurança solicitadas por nossa petição, estamos preocupados com a extrema demora da FDA. De fato, a agência poderia facilmente ter exigido as alterações na rotulagem de segurança descritas em nossa petição há mais de uma década para alertar o público sobre os riscos desses medicamentos amplamente utilizados.

É importante ressaltar que a FDA negou nossa solicitação em relação ao risco de coriorretinopatia serosa central e também se recusou a revisar todos os outros rótulos pertinentes para garantir que outras informações importantes sobre o uso e a segurança dos corticosteróides sejam apresentadas de maneira consistente.

Tabela: Exemplos de corticosteróides sistêmicos comuns
Os corticosteróides suprimem o sistema imunológico e aumentam o risco de infecção por qualquer patógeno (incluindo patógenos virais, bacterianos, fúngicos, protozoários ou helmínticos). Os corticosteróides podem reduzir a resistência a novas infecções, exacerbar infecções existentes, aumentar o risco de disseminação de infecções, aumentar o risco de reativação ou exacerbação de infecções latentes e mascarar alguns sinais de infecção.

As infecções associadas a corticosteróides podem ser leves, mas também podem ser graves e, às vezes, fatais. A taxa de complicações infecciosas aumenta com o aumento das dosagens de corticosteróides.

Monitore o desenvolvimento da infecção e considere a retirada do corticosteroide ou a redução da dosagem, conforme necessário.

Não administre corticosteróides por injeção em uma cavidade bursal, articulação, tendão ou lesão na presença de infecção local aguda.

Tuberculose: se um medicamento corticosteroide for usado para tratar uma condição em pacientes com tuberculose latente ou reatividade à tuberculina, pode ocorrer a reativação da tuberculose. Monitore atentamente esses pacientes quanto à reativação. Durante a terapia prolongada com corticosteróides, os pacientes com tuberculose latente ou reatividade à tuberculina devem receber quimioprofilaxia.

Varicela zoster (herpes zoster) e infecções virais por sarampo: A varicela e o sarampo podem ter um curso grave ou até mesmo fatal em pacientes não imunes em uso de corticosteróides. Em pacientes tratados com corticosteróides que não tiveram essas doenças ou não são imunes, deve-se tomar cuidado especial para evitar a exposição à varicela e ao sarampo:

• Se um paciente tratado com corticosteróides for exposto à varicela, pode ser indicada a profilaxia com imunoglobulina para varicela zoster. Se houver desenvolvimento de varicela, pode ser considerado o tratamento com agentes antivirais.
• Se um paciente tratado com corticosteróides for exposto ao sarampo, pode ser indicada a profilaxia com imunoglobulina.

Reativação do vírus da hepatite B: A reativação do vírus da hepatite B pode ocorrer em pacientes portadores de hepatite B tratados com doses imunossupressoras de corticosteróides. A reativação também pode ocorrer com pouca frequência em pacientes tratados com corticosteróides que parecem ter resolvido a infecção por hepatite B.

Faça uma triagem dos pacientes quanto à infecção por hepatite B antes de iniciar o tratamento imunossupressor (como o prolongado) com corticosteróides. Para os pacientes que apresentarem evidências de infecção por hepatite B, recomende a consulta com médicos especializados no tratamento da hepatite B em relação ao monitoramento e à consideração de terapia antiviral para hepatite B.

Infecções fúngicas: Os corticosteróides podem exacerbar infecções fúngicas sistêmicas; portanto, evite o uso de corticosteróides na presença de tais infecções, a menos que a terapia com corticosteróides seja necessária para controlar as reações ao medicamento. Para pacientes em terapia crônica com corticosteróides que desenvolvem infecções fúngicas sistêmicas, recomenda-se a retirada do corticosteroide ou a redução da dosagem.

Amebíase: Como os corticosteróides podem ativar a amebíase latente, recomenda-se descartar a amebíase latente ou a amebíase ativa antes de iniciar a terapia com corticosteróides em pacientes que passaram algum período nos trópicos ou naqueles com diarreia de causa não esclarecida.

Infestação por Strongyloides (verme do fio): Os corticosteróides devem ser usados com muito cuidado em pacientes com infestação conhecida ou suspeita de Strongyloides. Nesses pacientes, a imunossupressão induzida por corticosteróides pode levar à hiperinfecção por Strongyloides e à disseminação com migração larval generalizada, muitas vezes acompanhada de enterocolite grave e septicemia gram-negativa potencialmente fatal (uma condição na qual as bactérias entram na corrente sanguínea).

Malária cerebral: evite corticosteróides em pacientes com malária cerebral.

Sarcoma de Kaposi: O sarcoma de Kaposi foi relatado em pacientes que receberam terapia com corticosteróides, na maioria das vezes para doenças crônicas. A descontinuação dos corticosteróides pode resultar em melhora clínica do sarcoma de Kaposi.

• Parafraseado do texto da FDA. Observe que a agência exigiu advertências modificadas para o Alkindi Sprinkle e o Tarpeyo.

O que você pode fazer
Se estiver tomando ou pensando em tomar corticosteróides, discuta os possíveis riscos e benefícios com seu médico. Para reduzir seus riscos, tente usar a menor dose eficaz de corticosteroide pelo menor tempo possível e tente usar formas não sistêmicas, se possível.