Será que o artigo científico que você está prestes a ler foi retratado pelo periódico ou pelos próprios autores? Embora a probabilidade disso ocorrer seja baixa, ela tem aumentado. Um estudo revelou que, entre 1985 e 2014, a taxa de retratação de artigos científicos subiu de cerca de 4 para 60 a cada 100.000 artigos publicados [1]. Outro estudo mostrou que, entre 2000 e 2020, essa taxa passou de 11 para 45 a cada 100.000 artigos no caso de publicações com autor correspondente afiliado a uma instituição europeia [2]. E, como observam os autores do primeiro estudo, com frequência esses artigos continuam sendo citados sem qualquer menção ao fato de terem sido retratados. Isso inclui publicações baseadas em dados produzidos por má conduta científica, que foi a razão mais comum para retratações nas áreas de biologia e medicina em 2020 [1].
Ao discutir as causas desse fenômeno, os autores destacam que muitos artigos continuam acessíveis sem qualquer indicação de que foram retratados. Em primeiro lugar, os editores dos periódicos nem sempre identificam corretamente os artigos retratados em seus sites. Embora o Comitê de Ética em Publicações (COPE, na sigla em inglês) tenha emitido diretrizes para ajudá-los nesse processo, essas recomendações ainda precisam ser plenamente aplicadas. Em segundo lugar, os artigos científicos costumam estar disponíveis em diversas plataformas online, incluindo servidores de preprints (antes da revisão por pares), bases de dados bibliográficas e sites de editoras [1].
Em abril de 2021, os autores do estudo selecionaram 500 artigos retratados da base de dados PubMed e verificaram se estavam devidamente identificados como retratados nas bases Web of Science, Google Scholar, ResearchGate, Scopus e Sci-Hub, bem como nos sites das editoras. A proporção de artigos não identificados como retratados variou entre 25% e 70%, dependendo da base consultada. A taxa mais alta de não identificação foi encontrada na Sci-Hub, amplamente utilizada em países de baixa renda [1].
Existe, no entanto, um recurso especificamente dedicado à listagem de artigos retratados: o Retraction Watch Database. Essa base de dados pode ser consultada por softwares de gerenciamento de referências, como o EndNote® e o Zotero®, que alertam automaticamente os usuários quando um artigo da biblioteca digital foi retratado [1,3].
Os autores concluem fazendo um apelo a toda a comunidade científica para que se comprometa com a melhoria da situação, a fim de garantir que dados de artigos retratados não sejam mais utilizados para embasar decisões em saúde [1].
Referências