Una organización internacional sin ánimo de lucro para fomentar el acceso y el uso adecuado de medicamentos entre la población hispano-parlante

Investigaciones

¿HÁ RISCOS NAS INFORMAÇÕES RISCOS NAS INFORMA SOBRE SAÚDE E MEDICAMENTOS DESSEMINADAS PELA INTERNET?
José Augusto C.Barros1

Resumo

: O uso intensivo dos medicamentos, entre outros determinantes, sofre a influencia da quantidade, qualidade e meios utilizados na disseminação de informações sobre eles. Mais recentemente, a utilização da Internet, ao lado de suas influencias positivas, tambem tem servido à indústria farmacêutica para promoção inadequada dos fármacos, através da propaganda e venda direta aos consumidores, inclusive de produtos que requerem prescrição médica. O texto faz uma avaliação crítica da Internet como instrumento de informação, apresentando endereços importantes para os profissionais de saúde interessados em acessar fontes confiáveis, pelo seu caráter independente, de informação farmacoterapêutica.

Palavras-chave

: informação farmacoterapêutica; internet e saúde; estrategias de mercadização farmacéutica

A consagração da quimiosíntese farmacêutica moderna, a busca de retorno financeiro que ultrapasse os crescentes investimentos realizados, associado a uma visão e práticas equivocadas quanto ao efetivo lugar que a tecnologia diagnóstica e terapêutica podem ter no desfrute de bons níveis de saúde, são responsáveis por distorções importantes na forma como, historicamente, vem sendo utilizados os medicamentos (em artigo recente (Barros 2002a), para o qual chamamos a atenção dos leitores interessados, fizemos uma síntese histórico-evolutiva das diferentes visões do processo saúde/doença, com ênfase no fenômeno da medicalização, através dos medicamentos). Para isto contribuem, de forma significativa as estratégias de mercadização adotadas pelos produtores e que assumem tanto formas consagradas de influência sobre prescritores e consumidores, como meios sofisticados, associados às recentes tecnologias da comunicação (Barros 1995).

De forma habitual, o alvo preferencial da publicidade farmacêutica tem sido – e, ainda por muito tempo o será- o médico, responsável legal pela prescrição. É preocupante, contudo, constatar a utilização crescente da Internet para vender medicamentos e disseminar propaganda para os consumidores, muitas vezes assumindo uma forma menos explícita já que tentam passar a idéia de que não passam de estratégias educativas ou, meramente, informativas visando promover a saúde. Já em 1996, diversas empresas, a exemplo da Ciba, Lilly, Genetech, Hoeschst Marion Roussell e Pfizer criaram Home pages.

Informe recente produzido pela Sociedad Española de Informatica de la Salud explicita que metade das páginas web que brindam informações médicas não cumprem com as exigencias mínimas esperadas, tais como identificação dos autores, clareza nas fontes utilizadas e a recomendação de que as decisões passem pelo crivo do profissional médico (Sandoval 2002). Inquérito realizado pelo rede Health on the net (HON) evidenciou que 43% dos entrevistados afirmaram fazer uso da Internet em busca de uma segunda opinião sobre os diagnósticos; um percentual bem maior (81%) fazem uso da rede para obter informação sobre fármacos e 13% os adquirem por essa via. Em relação aos médicos incluidos no estudo, quase 72% recomendavam páginas web aos seus pacientes e 85% deles utilizam essa fonte para informar-se sobre fármacos. (Sandoval 2002). Chama a atenção a inclusão de produtos que demandavam prescrição médica nessa nova modalidade de propaganda. Na década de 80, tem início nos Estados Unidos a discussão sobre a pertinência da divulgação para o grande público de anúncios desses medicamentos. Entre os argumentos a favor estavam os seguintes: a) há uma crescente demanda de informação por temas relacionados à saúde; b) a promoção, diretamente aos consumidores, a respeito de novas alternativas terapêuticas, serviria de estímulo para a busca de auxílio médico para doenças que, sem o uso desse recurso, ficariam sem tratamento; c) esta é uma maneira pela qual pode-se dispor de consumidores melhor informados. Em inquérito realizado pela FDA (Food and Drug Administration), no qual foram entrevistados 1.200 adultos, a opinião majoritária foi a de que os anúncios contribuíam para o melhor cumprimento da prescrição e permitiam um melhor relacionamento com o médico (Anônimo 1998c).

Os gastos da indústria com a propaganda direta ao consumidor, nos EUA, chegaram a US$ 2.5 bilhões em 2000 (no ano anterior havia sido de US$ 1.8 bilhão), tendo mais da metade desse dispêndio se direcionado a anúncios veiculados

pela televisão, devendo ser ressaltado que os produtos anunciados demandavam prescrição (os anúncios na TV sofreram um incremento de 27% de um ano para o outro). Os resultado do investimento são evidenciados pelo aumento das vendas observado, justamente, para os 50 medicamentos mais anunciados, responsáveis por 47.8% do incremento das vendas no varejo (Findley 2001). Um outro estudo evidencia de que a propaganda de medicamentos que requerem prescrição, dirigida aos consumidores, aumentou 212% entre 1996 (quando representavam 9% do total gasto em atividades promocionais) e 2000 (passa a representar quase 16%); em todo caso, o dispêndio com a promoção de medicamentos sob prescrição, direcionada aos profissionais de saúde, persiste absorvendo mais de 80% dos gastos totais, o que leva à conclusão de que as estratégias de mercadização orientadas para os consumidores, apesar do seu incremento, continuam tendo um caráter complementar, além de se concentrarem em uns poucos produtos, em geral, recentes ou que não contem com a competição de genéricos (Rosenthal et al. 2002). Para estes autores os prejuízos potenciais das mencionadas práticas seriam uma prescrição inadequada, induzida pelas demandas equivocadas dos pacientes e o desperdício de tempo dos médicos ao ter que explicar as razões pelas quais aquele produto determinado não é o mais apropriado.

Deficiencias importantes tem sido documentadas quanto à propaganda de produtos não sujeitos à prescrição. Inquérito realizado com 1872 telespectadores em relação a anuncios por eles vistos, 70% afirmou que pouco ou nada tinham aprendido sobre o problema específico que demandava tratamento, enquanto que 59% acreditava que passaram a conhecer pouco ou nada a respeito do produto anunciado; um outro estudo constatou que, ao passo que muitos anúncios forneciam dados sobre o nome do produto e sobre os sintomas da doença para a qual se destinava, mui poucos tentavam educar o paciente sobre a proporção de êxito do tratamento, duração do mesmo ou sobre eventuais alternativas terapêuticas, incluindo mudanças comportamentais que poderiam contribuir para o usufruto de melhores níveis de saúde (apud Wolfe 2002).

Além da intensiva utilização da Internet, entre outras estratégias inovadoras de que vem lançando mão os produtores de medicamentos, inclusive para burlar eventuais controles, existem enlaces com grupos organizados de pacientes portadores de determinadas doenças, linhas telefônicas exclusivas para oferecer informações ao público, artigos na imprensa leiga, etc. Ressalte-se que o material preparado para organizações de pacientes apresentam qualidade dificilmente passíveis de serem custeadas pelas próprias entidades. Para Gilbert & Chetley (1996), as organizações de pacientes se tornaram importantes alvos da mercadização, transformando-se em um meio adicional de divulgação de lançamentos e de acesso direto aos pacientes, além de oferecerem respaldo aos fabricantes nas suas reivindicações para se contraporem aos controles vigentes quando da autorização de novos produtos ou da fixação de preços.

A disponibilidade de informação médica de qualidade exerce significativa e positiva influencia, no caso dos medicamentos, para que ocorra uma boa prescrição e uso final dos mesmos. A internet ja se constitui na via mais importante para obtenção de informações, inclusive para eventual atualização farmacoterapêutica. Os boletins terapêuticos vinham cumprindo esse papel, de forma mais limitada, em especial por seu caráter impresso e menos atraente se comparados às revistas médicas clássicas, patrocinadas pelos anúncios de produtos farmacêuticos. A este respeito, aliás, vale recordar que o dispêndio promocional com estratégias dirigidas aos médicos, apesar de privilegiar os propagandistas e de contemplar o patrocínio de congressos e distribuição de amostras grátis e de brindes, se volta, de forma importante, para a publicidade veiculada nas revistas médicas. A qualidade desses anúncios tem sido objeto de avaliação por diferentes estudos, inclusive voltados para revistas brasileiras de grande penetração (Barros 2002b) nos quais ficou patente a tendenciosidade mercadológica com omissão deliberada de dados importantes (relacionados, por exemplo, às contra-indicações e efeitos adversos), tanto como foi detectado em manual de uso corriqueiro como fonte de consulta pelos prescritores (Barros 2000).

As possibilidades dos prescritores contarem com informação confiável, filtrada e concisa, se ampliaram graças à existencia dos boletins farmacológicos na web, mesmo que haja discrepancias quanto ao formato, conteúdo e apresentação. Estes boletins brindam dados contrastados, objetivos, sobre a utilização racional dos medicamentos, cumprindo seus propósitos de oferecer recomendações isentas sobre eficácia, segurança e custo. Além disso, eles podem incluir matérias sobre a promoção dos fármacos ou a respeito das indicações autorizadas dos mesmos.

Obviamente, tais propósitos só serão cumpridos se as publicações se mantiverem independentes tanto em relação aos fabricantes, quanto com respeito aos governantes e autoridades sanitárias. O Quadro 1 apresenta alguns dos principais boletins terapêuticos disponíveis, no momento, em diferentes países, com seus respectivos acessos na Internet. Nesta, podem ser encontradas, tanto adaptações idênticas à edição impressa, com acesso diversificado ao seu conteúdo, como versões preparadas, exclusivamente, para acesso on line.

       Quadro 2. Algumas bases de dados sobre medicamentos disponíveis na Internet

Boletins Sites na Internet
Australian Prescriber
Therapeutics Letter

Therapeutic Bulletin
Medicines Information Bulletin

The Medical Letter on Drugs Therapeuticsa
Drug and Therapeutic Bulletinb

La Revue Prescrire
MeRec Bulletina

Informazioni sui Farmacib
World of Drug Information (Iowa Drug Info Service)

Carta Médica del Sindicato Médico del Uruguay
Información Terapéutica del Sistema Nacional de Salud

www.australianprescriber.com
www.ti.ubc.ca

www.stjames.ie/nmic/nmicinde.html
www.premec.org.nz/bulletins.html

www.medletter.com 
www.which.net/health/dtb/main.html
 

www.esculape.com/prescrire/ www.npc.co/uk/merec/merecbody.html www.npc.co.uk/merec/nmerec2000.html
www.fcr.re.it/sids.html
www.uiowa.edu/~idis/idisnews.htm

 
www.smu.org.uy/noticias/noticias.htm www.msc.es/farmacia/infmedic/f_infmedic.htm

Fonte: Bouza, CT et al. 2001      aResumo               bIndices

Além dos bancos de dados de caráter bibliográfico, podem ser úteis na obtenção de forma imediata, de dados atualizados sobre medicamentos comercializados, a realização de consulta às bases de dados da Internet incluidas no Quadro 2. Na sua forma impressa, o Vademecum Internacional, contendo fichas técnicas elaboradas pelos laboratórios para seus respectivos produtos e com uma base de dados contendo, em 2000, 90.000 especialidades registradas em 18 países, tem se constituido em uma das fontes mais utilizadas pelos médicos. O Medscape Drug Info inclue informações de duas bases de dados: do American Hospital Formulary Service – Drug Information e do National Drug Data File (200.000 produtos). Contempla referencias bibliográficas sob a forma de hipertexto e monografias com indicações, doses, interações, efeitos adversos, informação para o paciente que pode ser entregue quando da prescrição. O banco VIDAL-pro contém mais de 7.000 monografias completas e 2.000 resumos, demandando registro gratuito, contando, ainda, com noticias sobre novos lançamentos e sobre produtos que foram retirados em virtude de efeitos adversos ou que, pura e simplesmente, deixaram de ser comercializados.3

Quadro 2. Algumas bases de dados sobre medicamentos disponíveis na Internet

Banco de dados Sites na Internet
Banco de dados de medicamentos do Consejo General de Colegios Oficiales Farmacéuticos (Espanha) www.cof.es/bot
Vademecum Internacionala www.vademecum.medicom.es
Banque de données Automatisée sur les medicaments (BIAM)a www2.biam.org/acceuil.htm
VIDALproa www.vidalpro.net
Medscape Drug Info www.medscape.com/druginfo http://promini.medscape.com/drugdb/search.asp
Clinical Pharmacologya www.gsm.com
Electronic Medicines Compendiuma http://emc.vhm.net
RxList – The Internet Drug Index www.rxlist.com
Micromedex Health Series www-mdx.com
Drugs in Pregnancy and Lactation (Harbor UCLA Medical Center) http://prl.humc.edu/obgyn/PUBLIC/TEARATOG/
Riska-c.htm
Farmacos en el mundo www.farmclin.com/farmclin/datamed.htm

Fonte: Bouza, CT et al. 2001

Ao mesmo tempo que urge reconhecer que a praticidade e amplitude da oferta de informações pode ser util e ter impacto positivo na vida das pessoas, existe o risco de tentativas de substituição do médico, em vez de complemento da atuação do mesmo, quando não da troca da farmácia quando da dispensação de medicamentos. Em fim, concordamos com Wolfe (2002) quando afirma que a educação de médicos e pacientes é demasiado importante para que fique nas mãos da indústria farmacêutica com suas campanhas pseudocientificas que tem mais que nada propósitos promocionais. A questão essencial, portanto, não é, propriamente, se os consumidores devem ou não receber informações sobre as alternativas de tratamento e sim, se a promoção dos medicamentos – cujo propósito fundamental é manter e ampliar as vendas – se constitui no meio adequado para brindar as informações de que carecem os consumidores.

Referencias bibliográficas

Anônimo. DTC ads educate but confuse, study finds. Scrip, 1998; 2358:17.
Barros JAC. Propaganda de Medicamentos: atentado à saúde? São Paulo: Hucitec/Sobravime (2ª edição); 1995.
Barros JA. A (des)informação sobre medicamentos: o duplo padrão de conduta da industria farmacêutica. Cadernos Saúde Pública 2000; 16(2): 110-119.
Barros JAC. Pensando o processo saúde e doença: A quem serve o modelo biomédico? Rev.Saúde e Sociedade 2002a; 11(1): 67-84.
Barros JAC. Anúncios de medicamentos em revistas médicas: ajudando a promover a boa prescrição? Ciência & Saúde Coletiva 2002b; 7(4):891-898.
Bouza CT, Bustillo, BM & Toledo RB. Atención Primaria 2001; 27(2):116-122.
Findlay S. Prescription drugs and mass media advertising, 2000. Research report by The National Institute for Health Care Management. Washington D.C.; novembro 2001.
Gilbert D & Chetley A. New trends in drug promotion. Consumer Policy Review, 1996; 6(5): 161-167.
Rosenthal MB, Berndt ER, Donohue JM, Frank RG, Epstein AM. Promotion of prescription drugs to consumers. N.Engl.J.Med. 2002; 346(7): 498-505.
Sandoval PX. ¿Qué me pasa, doctor Internet ? El País, 17 de novembro de 2002 (Cuaderno Domingo, p.9).
Wolfe SM. Direct-to-consumer advertising -Education or emotion promotion? N.Engl.J.Med. 2002; 346(7): 524-526.

____________________________
1 Doutor em Medicina Preventiva, Prof. do Depto.de Medicina Social da UFPE, Membro do Comite Consultivo de AIS (Accion Internacional para la Salud) e do Conselho Diretor da SOBRAVIME (Sociedade Brasileira de Vigilancia de Medicamentos)
 2
Grandes empresas elevaram seus gastos com propagandas para os consumidores, nos EUA a exemplo do Merck ou do Pfizer que gastaram mais que o dobro em 2000 em comparação a 1999. As empresas patrocinaram 314 mil eventos “educativos” em 2000 (em 1999 haviam sido 280 mil e, em 1993, 70 mil) (Findlay 2001)
3 A página Web Farmacos del Mundo, sob a responsabilidade da revista “Atención Farmaceutica” fornece os endereços de mais de 30 bases de dados sobre medicamentos, espalhadas pelo mundo, incluindo as citadas no Quadro 6

 

modificado el 22 de septiembre de 2017