Resumo
As preocupações com a replicabilidade e reprodutibilidade das pesquisas publicadas têm crescido em muitos campos de pesquisa, mas os dados empíricos para informar as políticas ainda são escassos. A pesquisa biomédica no Brasil se expandiu rapidamente nas últimas três décadas, sem uma avaliação sistemática da replicabilidade de seus resultados. Com isso em mente, organizamos a Iniciativa Brasileira de Reprodutibilidade, uma replicação multicêntrica de experimentos publicados da ciência brasileira usando três métodos experimentais comuns: o ensaio MTT, a reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa (reverse transcription polymerase chain reaction, RT-PCR) e o labirinto em cruz elevado (elevated plus maze, EPM). Um total de 56 laboratórios realizou 143 réplicas de 56 experimentos; destas, 96 réplicas de 47 experimentos foram consideradas válidas por um comitê independente. As taxas de réplica para esses experimentos variaram entre 15% e 45%, de acordo com cinco critérios predefinidos. Em termos medianos, os tamanhos relativos dos efeitos foram 60% maiores nos experimentos originais do que nas réplicas, enquanto os coeficientes de variação foram 60% menores. A redução do tamanho do efeito foi menor para MTT, experimentos com linhagens celulares e resultados originais com menor variabilidade, enquanto os valores t para as réplicas foram positivamente correlacionados com as previsões dos pesquisadores sobre a replicabilidade. Desvios dos protocolos pré-registrados foram muito comuns nas réplicas, mais frequentemente devido a razões inerentes ao modelo experimental ou relacionadas à infraestrutura e logística. Nossos resultados destacam fatores que limitam a replicabilidade dos resultados publicados por pesquisadores no Brasil e sugerem maneiras pelas quais esse cenário pode ser melhorado.