Em 2023, um estudo usando bancos de dados de saúde dinamarqueses investigou o risco de infecção pulmonar por Moraxella catarrhalis em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (chronic obstructive pulmonary disease, COPD) tratados com um corticosteroide inalado (1). A M. catarrhalis é uma das bactérias mais comumente responsáveis pela infecção que leva a uma exacerbação da COPD (1,2).
Nesse estudo, os pacientes foram considerados como tendo uma infecção clínica por M. catarrhalis se tivessem sido internados ou se tivessem recebido uma prescrição de antibiótico durante o período entre 7 dias antes e 14 dias depois de terem um exame de cultura do trato respiratório inferior positiva para M. catarrhalis (1).
A exposição aos corticosteroides foi expressa em doses equivalentes de budesonida. A exposição baixa foi definida como uma dose equivalente de budesonida inferior a 328 microg por dia, a exposição moderada como uma dose entre 328 e 821 microg por dia e a exposição alta como uma dose superior a 821 microg por dia (1).
18.867 pacientes com COPD foram incluídos, dos quais 521 tiveram um exame de cultura positivo para M. catarrhalis durante o período médio de acompanhamento de 332 dias. 455 pacientes desenvolveram uma infecção clínica conforme definido acima, 309 dos quais foram internados e 258 receberam uma prescrição de antibiótico (1).
Depois de ajustar para vários fatores de risco, os pacientes expostos às doses mais altas de um corticosteroide inalado tiveram um risco de infecção clínica por M. catarrhalis até 3 vezes maior do que os pacientes não expostos (taxa de risco [HR] 2,8; intervalo de confiança de 95% [95CI] 2,1-3,8; diferença estatisticamente significativa). Mesmo doses baixas foram associadas a um risco maior (HR 1,6; IC95% 1,2-2,3) (1). O risco pareceu ser dose dependente.
NA PRÁTICA Este estudo é um alerta para o fato de que os corticosteroides, inclusive as formulações inaladas, são imunossupressores que apresentam risco de infecção. Um corticosteroide inalatório reduz o risco de internação relacionado às exacerbações da COPD, mas, considerando o aumento do risco de infecção, ele deve ser usado somente para sintomas persistentes e na menor dose eficaz.
Referências