A ceftriaxona é um antibiótico cefalosporínico de “terceira geração”, usado na forma injetável (1,2). Em 2014, na União Europeia, o uso de produtos contendo ceftriaxona foi restrito às formas intravenosa ou intramuscular. A via subcutânea não foi mais autorizada, dada a falta de avaliação em seres humanos. Porém, em 2019, na França, a Agência Francesa de Produtos de Saúde (ANSM) considerou que “em algumas situações, o clínico pode julgar que a administração subcutânea de ceftriaxona é indispensável (…) desde que [o paciente] ou sua família sejam informados” (tradução do francês para o inglês da Prescrire) (1,3-5).
Um estudo realizado por um centro de farmacovigilância regional francês examinou 18 relatos de necrose cutânea atribuídos à ceftriaxona injetada por via subcutânea, registrados no banco de dados de farmacovigilância francês entre 1985 e julho de 2022 (6). 18 casos de necrose cutânea analisados. A idade média dos pacientes foi de 78,7 anos, e cerca de três quartos deles eram mulheres (6). A ceftriaxona foi usada para tratar infecções pulmonares, gastrintestinais ou do trato urinário, ou a sepse. Em 16 pacientes, a ceftriaxona foi o único medicamento suspeito.
Em 2 pacientes, a ceftriaxona foi combinada com outro medicamento: um aminoglicosídeo ou lidocaína. A dose diária foi de 1 g em 44% dos pacientes e 2 g em 33%, ou seja, em conformidade com a dosagem recomendada no Resumo das Características do Produto (summary of product characteristics, SmPC) francês para o Rocephin° para uso intravenoso ou intramuscular. O solvente usado para a diluição não foi especificado na maioria dos relatórios. Um solvente é incluído na embalagem de alguns produtos contendo ceftriaxona destinados à administração intramuscular, e geralmente contém lidocaína porque a injeção intramuscular é dolorosa (7).
Dependendo do caso, a necrose estava associada a eritema, formação de bolha ou hematoma, ou outras reações locais. Todos os casos foram graves, e 6 pacientes requereram internação hospitalar ou prolongamento da internação. Três pacientes foram operados (6).
O tempo mediano para o início da necrose cutânea foi de 4 dias após o início da exposição (variando do dia da injeção até 16 dias depois). Em sete pacientes, a necrose cutânea apareceu no dia da primeira injeção ou no dia seguinte (6).
O SmPc francês do Rocephin° não adverte sobre os riscos da injeção subcutânea (7). O mecanismo por trás do início da necrose permanece desconhecido. Os autores não especificaram o número de casos de necrose registrados após 2014 (data a partir da qual a via subcutânea não foi mais autorizada na União Europeia) ou após 2019 (quando a ANSM abriu a possibilidade de usar a via subcutânea em determinadas situações).
NA PRÁTICA A via subcutânea: somente em casos raros. Essas observações nos lembram que a ceftriaxona subcutânea expõe os pacientes ao risco de necrose cutânea, adicionalmente aos efeitos adversos comuns às outras vias de administração. Esses casos de necrose às vezes são graves o suficiente para justificar o tratamento cirúrgico. São muito raras as situações clínicas que requerem terapia antibiótica em que a injeção subcutânea é somente a via praticável e em que a ceftriaxona é a melhor opção possível.
Referências selecionadas da literatura da Prescrire