Um estudo publicado no JAMA examina os pagamentos feitos pela indústria farmacêutica a urologistas e profissionais de prática avançada (assistentes médicos e enfermeiras, ou Profissionais de Prática Médica Avançada) e como esses pagamentos influenciam suas prescrições [1]. Segundo os autores do artigo, em 2021, os Profissionais de Prática Médica Avançada receberam US$ 119 milhões da indústria. O Vibegron é o medicamento mais recente e mais caro a ser aprovado pelo FDA para tratar a bexiga hiperativa. Este artigo apresenta os resultados de um estudo que analisou se os pagamentos da indústria a urologistas e Profissionais de Prática Médica Avançada, que foram associados ao Vigebron, estavam correlacionados com as prescrições do Vibegron durante seu primeiro ano de comercialização.
Os autores identificaram urologistas e Profissionais de Prática Médica Avançada que trabalhavam em consultórios de urologia no arquivo de Dados do Medicare sobre Práticas de Provedores e Especializações de 2020 (Medicare Data on Provider Practice and Specialty). Foram incluídos os médicos que fizeram pelo menos 11 prescrições de qualquer medicamento para tratar a bexiga hiperativa para pessoas cobertas pelo Medicare Parte D. Para identificar os pagamentos feitos pela indústria a esses profissionais em 2021, e que estavam relacionados ao Vibegron, foi utilizado o banco de dados Open Payments.
Os resultados primários foram: proporção de profissionais que prescrevem Vibegron, porcentagem de prescrições de Vibegron como parte de todas as prescrições de produtos para tratar a bexiga hiperativa emitidas por cada profissional e a porcentagem de dias de suprimento de Vibegron para tratar a bexiga hiperativa em relação ao total de dias de tratamentos para bexiga hiperativa prescritos por cada profissional.
As covariáveis incluíam tipo de profissional, sexo, idade e tamanho da clínica e dados demográficos do paciente (idade, pontuação de risco, raça e origem étnica [coletados para levar em conta as diferenças entre os pacientes que poderiam afetar o pagamento ou a prescrição] e subsídio para pessoas de baixa renda).
Foram incluídos 4.616 médicos (952 mulheres [20,6%], 3.664 homens [79,4%]; idade média [DP] 52,5 [12,7] anos): 3.763 urologistas e 853 Profissionais de Prática Médica Avançada. Em 2021, 30,8% (1158 de 3763) dos urologistas e 36,0% (307 de 853) dos Profissionais de Prática Médica Avançada haviam recebido pagamentos da indústria associados ao Vibegron. A mediana e a faixa interquartil dos pagamentos foi de US$ 26,57 (US$ 16,90-US$ 43,37), e a mediana (faixa interquartil) do número de pagamentos foi de 1 (1-2).
Os médicos que receberam pagamentos frequentemente eram homens, eram mais jovens e trabalhavam em consultórios maiores.
Os profissionais clínicos que receberam algum pagamento pelo Vibegron tinham maior probabilidade de prescrever o medicamento do que aqueles que não receberam nenhum pagamento (odds ratio [OR], 3,61; 95% CI, 2,89-4,51; P < 0,001). O recebimento de qualquer pagamento foi associado a um aumento de 0,93% (95% CI, 0,74%-1,13%) nas prescrições de Vibegron como porcentagem do total de prescrições para tratar a bexiga hiperativa.
A porcentagem de prescrições de Vibegron como parte do total de prescrições para tratar a bexiga hiperativa foi de 1,30% (IC 95%, 1,18%-1,46%) para aqueles que receberam pagamentos, em relação a 0,42% (IC 95%, 0,33%-0,52%) para aqueles que não receberam pagamentos. O recebimento de qualquer pagamento foi associado a um aumento de 0,77% (95% CI, 0,62%-0,93%; p<0,001) nos dias de prescrição de Vibegron como uma porcentagem do total de dias de medicação para bexiga hiperativa. A associação entre pagamentos e prescrição foi a mesma, independentemente de serem médicos ou Profissionais de Prática Médica Avançada. Os Profissionais de Prática Médica Avançada tinham menos probabilidade de prescrever Vibegron do que os urologistas (OR, 0,37; IC 95%, 0,23 a 0,59; P < 0,001).
Mesmo que esse estudo não possa provar a causalidade, ele agrega dados da Profissionais de Prática Médica Avançada à literatura e sugere que os pagamentos afetam o comportamento prescritivo de todos igualmente.
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