Resumo:
Contexto: Há um desequilíbrio de poder entre autores e revisores na revisão por pares simples-cega. Analisamos como a mudança da revisão por pares simples-cega para a revisão por pares duplo-cega afetou 1) a disposição dos especialistas em revisar, 2) suas recomendações para publicação e 3) a qualidade dos relatórios de revisão.
Métodos: O Finnish Medical Journal trocou de revisão por pares simples-cega para dupla cega em setembro de 2017. A proporção de convites para revisão que resultaram no recebimento de um relatório de revisão foi contada. As recomendações dos revisores de “aceitar como está”, “pequena revisão”, “grande revisão” ou “rejeitar” foram analisadas. O conteúdo das revisões foi avaliado por dois revisores experientes usando o Review Quality Instrument (Ferramenta de Qualidade de Revisão) modificado para poder se aplicar tanto à pesquisa original quanto aos artigos de revisão. O material do estudo incluiu revisões enviadas entre setembro de 2017 a fevereiro de 2018. Como controle foram usadas revisões enviadas entre setembro de 2015 e fevereiro de 2016 e entre setembro de 2016 e fevereiro de 2017. As recomendações dos revisores e as pontuações das avaliações de qualidade foram testadas com o teste Qui-quadrado, e as médias das avaliações de qualidade foram testadas com o teste t de amostras independentes.
Resultados: Um total de 118 revisões duplo-cegas da primeira rodada de 59 artigos foi comparado com 232 revisões simples-cegas da primeira rodada contando com 116 artigos. A proporção de convites de revisão bem-sucedidos na revisão simples-cega foi de 67% comparados com 66% na revisão duplo-cega. Na revisão duplo-cega, os revisores recomendaram aceitar como está ou uma pequena revisão com menos frequência do que durante o período de controle (59% vs. 73%), e uma grande revisão ou rejeição com mais frequência (41% vs. 27%, P = 0,010). Em avaliação da qualidade, 116 revisões do período duplo-cego foram comparadas com 104 revisões realizadas entre setembro de 2016 e fevereiro de 2017. Numa escala de 1 a 5 (1 ruim, 5 excelente), as revisões duplo-cegas receberam maior proporção geral de classificações de 4 e 5 do que as revisões simples-cegas (56% vs. 49%, P < 0,001). A média geral das revisões duplo-cegas foi de 3,38 (IQR, 3,33-3,44) vs. 3,22 (3,17-3,28; P < 0,001) para revisões simples-cegas.
Conclusões: A qualidade das revisões realizadas de forma duplo-cega foi melhor do que a de realizadas de forma simples. A troca para a revi são duplo-cega não alterou a disposição dos revisores de revisar. Os revisores se tornaram um pouco mais críticos.