Gestão de Ensaios Clínicos, Metodologia, Custos e Conflitos de Interesse

Resumo
Importância: O uso de antidepressivos está aumentando globalmente, com o aumento da duração da prescrição no mundo real. Embora a FDA considere adequados ensaios de 6 a 8 semanas para aprovação regulatória, as diretrizes recomendam tratamento prolongado. Isso levanta questões sobre as evidências que apoiam as práticas de prescrição de longo prazo.

Objetivo: Comparar sistematicamente a duração de ensaios randomizados controlados por placebo de antidepressivos comumente prescritos com os padrões de uso no mundo real.

Desenho, cenário e participantes: Esta revisão descritiva analisou 52 ensaios randomizados controlados por placebo elegíveis (n = 10.116 participantes) que investigaram os 10 antidepressivos mais comumente prescritos, selecionados com base nos dados de prescrição dos Estados Unidos de 2022. Os ensaios foram amostrados em intervalos de 5 anos, de 1978 a 2023.

Principais desfechos e medidas: O desfecho primário foi a comparação entre a duração do ensaio e a duração do uso de antidepressivos no mundo real com base nos dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (NHANES). Os desfechos secundários incluíram características metodológicas, como o uso de escalas de gravidade padronizadas, monitoramento da retirada, protocolos de redução gradual e tipo de placebo usado.

Resultados: A mediana de duração do uso de antidepressivos nos Estados Unidos foi de aproximadamente 5 anos (260 semanas), enquanto a duração mediana dos ensaios foi de 8 semanas (IQR: 6-12 semanas). Entre os ensaios, 88,5% (n = 46) tiveram duração de 12 semanas ou menos, e apenas 11,5% (n = 6) randomizaram participantes por mais de 12 semanas, sem que nenhum excedesse 52 semanas. Embora 94,2% dos usuários de antidepressivos recebam prescrição de medicamentos por mais de 60 dias, a duração média do ensaio foi de 56 dias. Poucos ensaios monitoraram os sintomas de abstinência (3,8%) ou incluíram protocolos de redução gradual (18,9%), e apenas 1,9% relataram desfechos de depressão ou ansiedade durante o período pós-tratamento. Nenhum ensaio utilizou placebos ativos para mitigar o desmascaramento.

Conclusões e relevância: Existe uma discordância substancial entre a duração típica de 8 semanas dos ensaios clínicos e a mediana de 5 anos de uso real de antidepressivos. Essa lacuna, agravada pelo monitoramento inadequado dos efeitos de abstinência e dos desfechos pós-tratamento, levanta questões importantes sobre as evidências que sustentam as práticas atuais de prescrição de longo prazo. São necessários ensaios financiados com recursos públicos de maior duração que monitorem a abstinência, os efeitos colaterais sexuais e a recaída para determinar a duração ideal da terapia antidepressiva.