A retatrutida é um medicamento de nova geração desenvolvido pela Eli Lilly, conhecido como “triplo-G” porque atua sobre três hormônios para promover a rápida perda de peso.
Durante os ensaios clínicos para o desenvolvimento da retatrutida, alguns participantes experimentaram perdas de peso aceleradas e muito significativas (entre 22 e 31% do peso corporal em 8-9 meses), superando outros medicamentos da sua classe que já foram aprovados, como Wegovy (semaglutida) ou Zepbound (tirzepatida).
Entre os efeitos adversos associados à perda extrema de peso em pacientes expostos à retatrutida durante os ensaios clínicos estão náuseas graves, cálculos renais, fragilidade, perda de massa muscular e dificuldades para manter um peso saudável ou atingir o peso desejado.
Alguns pacientes reduzem voluntariamente a dose ou pulam administrações para evitar perder mais peso, enquanto outros tentaram consumir alimentos hipercalóricos ou maiores quantidades por porção para se estabilizar.
Apesar dos benefícios que trazem, como melhora da dor nas articulações, colesterol alto e doença hepática gordurosa, os especialistas expressam preocupação com os riscos de perda de peso excessiva, incluindo pancreatite, cálculos biliares, enfraquecimento do sistema imunológico e possíveis distúrbios alimentares.
Além disso, a interrupção do tratamento ao final dos ensaios clínicos apresenta riscos de recuperação do peso, o que poderia agravar os problemas metabólicos e deteriorar a saúde mental.
Nesse sentido, os médicos alertam que o sistema de saúde não está preparado para supervisionar adequadamente os pacientes que usam esses medicamentos potentes fora dos ensaios clínicos, especialmente sem o apoio de nutricionistas ou psicólogos para orientar e acompanhar a avalanche de mudanças físicas, nutricionais e emocionais que enfrentam. Os pacientes têm muito pouco tempo para assimilar essas mudanças, uma vez que a velocidade com que esses medicamentos causam a perda de peso é cada vez maior.
Chama a atenção a corrida competitiva entre as farmacêuticas desenvolvedoras de análogos do GLP-1, como Lilly e Novo Nordisk, para conseguir que os medicamentos causem uma maior perda de peso em um período de tempo menor.
A perda de peso total tem aumentado à medida que diferentes moléculas são desenvolvidas, e cada vez se obtêm maiores perdas em menos tempo (Gráfico 1). Esta corrida é impulsionada pelos incentivos do mercado e pelas elevadas expectativas econômicas dos investidores.
Após os efeitos prejudiciais evidentes decorrentes da perda extrema de peso em tão pouco tempo, ambas as empresas farmacêuticas começaram a mudar seu discurso e agora enfatizam a saúde geral em vez de apenas a perda de peso.
Os especialistas pedem mais pesquisas sobre o equilíbrio entre a perda de gordura e a preservação da massa magra, bem como estudos de longo prazo para avaliar os riscos das flutuações exageradas de peso que chegaram a equiparar os resultados da cirurgia bariátrica.
A FDA também é criticada por priorizar a perda de peso como critério de avaliação primário em ensaios clínicos, em vez de se concentrar na composição corporal equilibrada, na saúde metabólica geral e na saúde mental.
Gráfico 1. Comparação da porcentagem de peso corporal perdido e do tempo em semanas para alcançar essa perda de peso entre diferentes ensaios da indústria farmacêutica (antes de que anunciassem os resultados)
Fonte: Grafico original elaborado por J REmory Parker/STAT. Recolhido, traduzido e adaptado por Salud e Fármacos do artigo: Chen, Elaine. How much weight loss is too much? Pharma is pushing the limit with new obesity drugs, Clinicians and patients fear a push for ever-greater results is creating health risks). Statnews Feb 20, 2025
Nota do autor original: os resultados de perda de peso provêm de ensaios realizados em diferentes períodos e fases.
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