Publicidade e Promoção

As redes sociais e a pressão de grupo (influência social entre pares, comum entre jovens em redes sociais) têm promovido o uso indevido de medicamentos isentos de prescrição médica (MIP, ou OTC – Over-The-Counter), por meio da viralização de “desafios” perigosos. Esses desafios, que circulam principalmente em plataformas como TikTok e YouTube, muitas vezes envolvem adolescentes e jovens adultos, e incentivam práticas arriscadas que podem levar a efeitos adversos graves, inclusive mortes [1].

O texto da FDA descreve dois casos emblemáticos:

• Desafio NyQuil Chicken: consiste em cozinhar frango com um xarope para tosse que contém paracetamol, dextrometorfano e doxilamina. O processo de fervura pode concentrar os princípios ativos do medicamento e liberar vapores tóxicos. Mesmo sem ingerir o alimento, a inalação pode causar danos pulmonares e intoxicação.
• Desafio Benadryl: incentiva a ingestão de grandes quantidades de difenidramina (um anti-histamínico de venda livre) com o intuito de provocar alucinações. Esse desafio já resultou em internações hospitalares, convulsões, falência orgânica e mortes.

Tais desafios representam sérios riscos à saúde pública, ao banalizar o uso incorreto de medicamentos e expor a população, especialmente os jovens, a danos neurológicos e orgânicos potencialmente fatais. A situação evidencia a necessidade urgente de:

• maior regulação sobre o conteúdo relacionado a medicamentos nas redes sociais;
• campanhas de educação sanitária sobre o uso racional de medicamentos;
• controle mais rigoroso do acesso a esses produtos.

A FDA reforça que medicamentos, mesmo de venda livre, devem ser utilizados de forma responsável, conforme indicado na bula (Drug Facts Label), e recomenda que famílias conversem com seus filhos sobre os riscos, mantenham os medicamentos fora do alcance de crianças e procurem atendimento imediato em caso de suspeita de intoxicação.

Opinião de Salud y Fármacos:
A acessibilidade dos medicamentos MIP não deve ser subestimada. Embora os medicamentos de venda livre sejam considerados seguros, seu uso em doses ou condições não recomendadas, ou o abuso, pode ser letal. Além disso, as plataformas digitais devem assumir maior responsabilidade na regulação de conteúdos que colocam a saúde e a vida em risco.

É necessária uma resposta integrada que combine regulamentação, fortalecimento da farmacovigilância e estratégias de conscientização sobre o uso adequado de medicamentos para prevenir essas práticas perigosas.

Sob uma perspectiva científica e de saúde pública, essa situação evidencia uma falha na educação sobre o uso apropriado de medicamentos, bem como a falta de vigilância, regulação e controle da publicidade em redes sociais, como já foi demonstrado em outros casos:

• ¿Debe la industria farmacéutica controlarse a sí misma?, publicado em Boletim Fármacos: Ética e Direito 2024; 27 (4);
• Una publicación en LinkedIn pone a Vertex en problemas con MHRA por incumplimiento de regulación publicitaria del RU, publicado em Boletim Fármacos: Ética e Direito 2024; 27 (4);
• La FDA amonesta a Exeltis por promoción indebida de Slynd en las redes sociales, publicado em Boletim Fármacos: Agências Reguladoras 2023; 26 (4).