Resumo
Objetivo: As mortes relacionadas ao uso de opioides prescritos aumentaram 200% entre 2000 e 2014. Há pouca pesquisa sobre os canais utilizados pelas empresas farmacêuticas para promover esses medicamentos. Neste estudo, investigamos o uso de líderes de opinião chave (KOLs, na sigla em inglês) pela indústria farmacêutica.
Métodos: Realizamos uma revisão qualitativa retrospectiva dos primeiros 503 documentos da indústria de opioides tornados públicos, disponíveis no Opioid Industry Document Archive (OIDA) da Universidade da Califórnia em São Francisco. Revisamos documentos incluindo decisões judiciais, correspondências, depoimentos, estudos clínicos e comunicações corporativas, analisando sua relevância e codificando-os por temas.
Resultados: Entre 2001 e 2019, empresas farmacêuticas como Janssen, Purdue Pharma e Cephalon identificaram, recrutaram e desenvolveram indivíduos que chamaram de “líderes de opinião chave” (LOCs), reconhecendo neles a capacidade de alcançar públicos estratégicos e influenciar o comportamento de prescrição. As empresas identificaram LOCs por meio de diferentes fontes, como parcerias com agências de relações públicas, análise de redes sociais e registros legislativos e regulatórios. O recrutamento ocorreu por diversos métodos, incluindo pesquisas para identificar nomes mencionados com frequência por médicos, classificações internas baseadas em simpatia e hábitos de prescrição de opioides. Esses líderes atuaram como palestrantes em conferências promovendo produtos opioides de marca, autores de artigos científicos favoráveis à prescrição de opioides e consultores em estratégias de marketing.
Conclusões: Os LOCs foram utilizados pela indústria farmacêutica para aproveitar sua reputação com o objetivo de incentivar profissionais de saúde a prescrever mais opioides. É fundamental garantir que pesquisadores e lideranças da área médica estejam cientes e críticos em relação ao viés da indústria movida pelo lucro, e que estejam livres de conflitos de interesse, a fim de evitar prescrições inadequadas e minimizar desfechos adversos para os pacientes.