A Pfizer anunciou a nomeação de Patrizia Cavazzoni como sua nova diretora médica [1]. Nessa função, Cavazzoni comandará as operações regulatórias, de farmacovigilância e de segurança de medicamentos da empresa. A contratação ocorre logo após sua saída da FDA (Agência de Alimentos e Medicamentos dos EUA) em janeiro de 2025.
Cavazzoni possui ampla experiência tanto na indústria farmacêutica quanto no campo da regulação de medicamentos. Antes de ingressar na FDA, em 2018, ela ocupou cargos executivos em empresas como Pfizer, Eli Lilly e Sanofi. Já na agência, atuou como diretora do CDER (Centro para Avaliação e Pesquisa de Medicamentos) entre 2021 e sua renúncia em janeiro de 2025 — período em que participou de decisões importantes, incluindo a controversa aprovação do Aduhelm, medicamento da Biogen para o tratamento do Alzheimer.
A saída de Cavazzoni da FDA coincidiu com a nomeação de Robert F. Kennedy Jr. como secretário do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA. Kennedy é um crítico contundente da indústria farmacêutica e prometeu acabar com as “portas giratórias” entre a FDA e as empresas que ela regula, com o objetivo de restaurar a confiança pública na agência. A contratação de Cavazzoni pela Pfizer gerou críticas de organizações como a Public Citizen, que alegam que esse tipo de movimentação enfraquece a credibilidade da FDA como instituição de saúde pública.
Apesar das promessas de reforma regulatória por parte de Kennedy, a decisão da Pfizer de contratar Cavazzoni sinaliza que a empresa aposta na manutenção do status quo. O CEO da Pfizer, Albert Bourla, destacou a importância de manter um diálogo com a nova administração, afirmando já ter se reunido com Kennedy e enxergado oportunidades de colaboração. A nomeação também evidencia a prática comum entre grandes farmacêuticas de recrutar ex-dirigentes da FDA para cargos estratégicos, visando aproveitar sua experiência no setor regulatório e no desenvolvimento de medicamentos.
Além disso, outro caso recente chamou atenção: Troy Tazbaz, até então diretor do Centro de Excelência em Saúde Digital da FDA, deixou a agência após dois anos e retornou à empresa Oracle como vice-presidente sênior de planejamento de centros de dados [2]. Sua saída ocorre em um momento em que demissões vêm afetando os times da FDA responsáveis por avaliar produtos baseados em inteligência artificial (IA). Antes de atuar na FDA, Tazbaz já havia trabalhado por cerca de 11 anos com estratégias de data centers em nuvem da Oracle.
Recentemente, a Oracle anunciou uma aliança estratégica chamada Stargate, formada em parceria com a OpenAI e o Softbank, que prevê investir até 500 bilhões de dólares em infraestrutura de IA. Embora seus objetivos ainda não estejam totalmente definidos, há indícios de que a iniciativa pretende aplicar IA a prontuários eletrônicos, com o intuito de auxiliar médicos na formulação de planos de cuidados mais eficazes.
Enquanto esteve na FDA, Tazbaz enfrentou o desafio de propor formas eficazes de regulamentar o uso da IA na medicina. Ele defendeu a criação de laboratórios de validação para desenvolver e testar algoritmos de IA em centros especializados — uma proposta apoiada pela Coalizão para IA em Saúde, organização sem fins lucrativos com forte apoio da indústria. Ele também liderou mudanças que aumentam o foco na monitorização pós-comercialização do desempenho de ferramentas de IA, inclusive no caso de dispositivos baseados em IA generativa, ainda não aprovados pela FDA.
Durante sua gestão, a FDA publicou um novo guia que permite a modificação pré-autorizada de dispositivos médicos, sem necessidade de novos trâmites regulatórios. “Esse é nosso primeiro passo em direção a um marco regulatório muito mais flexível, voltado à IA e tecnologias emergentes, projetadas para evoluir muito mais rapidamente do que os dispositivos médicos tradicionais”, afirmou Tazbaz sobre as diretrizes para mudanças planejadas em 2023, classificando-as como uma “diretriz transformadora”.
Fontes Originais