Um estudo feito com um banco de dados de seguro de saúde sul-coreano e que incluiu 11.042 pacientes com fibrilação atrial, com idade acima de 65 anos, avaliou as consequências clínicas da interrupção do tratamento com um anticoagulante oral de “ação direta”: apixaban (Eliquis°), edoxaban (Lixiana°), rivaroxaban (Xarelto°) ou dabigatran (Pradaxa) [1,2]. A interrupção do tratamento foi definida como um intervalo de um ou mais dias entre a data planejada para a renovação da prescrição e a data do próximo requerimento de reembolso.
Pelo menos uma falha no tratamento durante o ano de acompanhamento em quase metade dos pacientes. Os arquivos de 4857 pacientes (44%) mostraram pelo menos uma falha no tratamento durante o ano de 2018 [1]. E em um quarto desses pacientes, o arquivo revelou mais de duas falhas. Metade das falhas no tratamento durou menos de 8 dias [1].
Doses não administradas e dificuldade de acesso ao sistema de saúde para renovação da receita. A análise das causas da interrupção do tratamento não foi possível com os dados disponíveis. Porém, os fatores associados à interrupção foram: uso do esquema de seguro de saúde nacional padrão, tratamento em áreas não metropolitanas, doença hepática, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), câncer, demência e uso de um diurético. Esses fatores de risco sugerem que alguns casos de interrupção do tratamento estavam ligados à dificuldade de acesso à renovação da receita ou ao esquecimento do paciente (levando a um atraso na renovação) [1].
O dobro de mortes e quase dez vezes mais casos de AVC, AIT ou embolia sistêmica. A medida de resultado primário foi uma combinação de morte, AVC, ataque isquêmico transitório (AIT) ou embolia sistêmica. Esse resultado composto foi observado em 183 casos por 1.000 pessoas-ano entre os pacientes com falhas no tratamento, em comparação com 47 casos por 1.000 pessoas-ano na ausência de falhas (diferença estatisticamente significativa). O risco relativo de morte estimado a partir da taxa de risco foi de 2,1 (intervalo de confiança de 95% [IC95%] 1,3-3,2) e o de AVC, AIT ou embolia sistêmica foi de 9,5 (IC95% 6,2-15,7) [1].
Essas diferenças no risco foram estatisticamente significativas a partir do primeiro dia de interrupção do tratamento [1].
Na Prática
devido à curta duração de ação dos anticoagulantes orais de ação direta, a interrupção do tratamento, mesmo que por um dia, é suficiente para reduzir significativamente sua eficácia (2). Este estudo mostra que tais interrupções expõem os pacientes a um risco de morte prematura e a um risco ainda maior de AVC, AIT ou embolia sistêmica. Isso justifica que se dedique um tempo para estabelecer estratégias, com o paciente (ou seus cuidadores), para evitar a perda de doses de anticoagulante oral e facilitar a renovação oportuna das prescrições. Essas estratégias incluem, em particular, o uso de diários de medicação e organizadores de pílulas semanais.
Referências Selecionadas da pesquisa da literatura da Prescrire